Ler tarot para si próprio.

"Podemos fazer leituras de Tarot a nós próprios?" Esta é uma questão antiga e recorrente dentro do universo do Tarot e das artes oraculares na sua generalidade, muitas vezes servindo de mote para grandes debates de opinião, concordâncias e discordâncias. Vamos aqui tentar dar-lhe algum contexto para que cada um encontre a sua resposta, aquela com que mais se identifica.
Existe uma linha de pensamento, na minha opinião muito dogmático que afirma veementemente que "Não". Dentro desta ideologia uns justificam a sua posição com a sua religião ou crenças e outros apenas porque alguém lhes disse ou ensinou que deitar as cartas a nós próprios seria uma forma inadequada e até desrespeitosa de usar o oráculo. Mas a resposta "Não...porque não" é algo que sempre tive muita dificuldade em aceitar, necessito de um contexto, de algo mais concreto como estrutura de uma visão ou ideologia.
Ao longo dos meus estudos e pesquisas deparei-me com um outro ponto de vista totalmente oposto, segundo o qual ler para nós próprios seria a melhor forma de aprofundar esta arte e de nos envolvermos pessoalmente na compreensão de cada arcano. Esta visão dando-me uma explicação fundamentada foi a linha de pensamento que adoptei para as minhas práticas.
Sendo assim a minha resposta a esta questão é definitivamente um "Sim", sabendo no entanto que aumenta o grau de dificuldade de uma forma considerável e exige muito empenho individual em questões de trabalho interno com os arcanos. Isto porque é necessário que cada um trabalhe o seu autocontrole e autoconhecimento muito mais profundamente. Mas haverá algo melhor do que aprofundar a arte do Tarot de forma a nos tornarmos, em simultâneo, pessoas mais conscientes?
Naturalmente uma consulta de Tarot em que nós seremos o "personagem principal" torna-se muito mais exigente visto que as nossas emoções, sentimentos, desejos e frustrações estão directamente envolvidas no tema em análise, o que nos impulsiona a ser tendenciosos na interpretação. De uma forma quase inconsciente faremos com que a leitura se adapte á nossa vontade, anseios, que corrobore as nossas suspeitas ou que desculpe os nossos actos. Por esta razão a primeira tarefa que nos compete, caso seja nossa opção consultar o Tarot para as nossas questões pessoais, será colocarmo-nos o mais possível perto do "Ponto zero", ou seja a neutralidade perante a situação. Vamos fazer a nossa leitura tal como o faríamos a um estranho, colocando-nos como meros observadores, fora de todo o enredo.
Uma prática muito utilizada com esta intenção é a meditação sobre o arcano XI (ou VIII) "A Justiça". A sua imparcialidade, equilíbrio, controlo entre o coração e a razão são características essenciais para executar este trabalho. Entre com a mente dentro da carta da Justiça encarnando este arcano antes de fazer a sua auto consulta, mantenha-a na sua consciência em cada etapa da sua interpretação.
Pode também usar a tiragem de uma carta diária. Para a questão "A que devo dar atenção no dia de hoje?" retire uma carta pela manhã com a sua resposta. Note que não é uma previsão de como será o seu dia, apenas algum detalhe a ter em consideração. No final do dia, faça uma retrospetiva verificando onde essa carta encaixou: Foi alguma atitude ou decisão sua? Dos outros em relação a si? Alguma situação que presenciou? Anote no seu diário e repita sempre que puder. Utilize também tiragens específicas para autoconhecimento que o façam reflectir sobre o seu carácter, virtudes e defeitos que podem ser aperfeiçoados. Pratique diálogos com o seu baralho, onde vai questionando sobre si próprio e cada carta que retira lhe dá a resposta, conduzindo a uma reflexão, um olhar para um espelho onde a imagem reflectida é você mesmo.
Todas estas técnicas o ajudarão a aproximar-se do tal "Ponto zero", da imparcialidade e neutralidade necessária no momento de executar uma consulta a si próprio. É necessário humildade para nos lermos, antes de mais teremos de nos aceitar como seres imperfeitos, com virtudes e defeitos que nos fazem errar, ter más atitudes, fazer más escolhas, sabendo porém que está nas nossas mãos a capacidade de melhorar e evoluir. Simplesmente aceite a mensagem das cartas sem permitir que o ego interfira na sua interpretação.
Como tudo na vida com treino, empenho e muito trabalho interno chegará ao ponto em que estará apto a fazer consultas a si próprio, úteis e assertivas. Conseguirmo-nos ver reflectidos em cada arcano é algo muito profundo e gratificante, além de que contribui para a nossa própria evolução da consciência. Na minha opinião, uma área a investir.